Um olhar sobre o primeiro longa de Tom Ford
A safra de filmes com temática homossexual tem crescido consideravelmente, embora seja a maior parte voltada ao universo masculino. Recentemente o cinema nacional abordou o romance incestuoso entre dois irmãos, e no início do mês chegou às telas do país o primeiro longa do estilista e agora diretor Tom Ford. Trata-se da história de George (Colin Firth), um professor de meia idade que não se acostuma com a morte se seu companheiro Jim (Mattew Goode), que morreu num acidente de carro. Após o rompimento forçado de seu relacionamento, o professor passa a sentir a dor da perda de seu grande amor e passa a conviver com a incapacidade de lidar com isto. Essa é a trama principal de A Single Man, que aqui no Brasil ganhou o título Direito de Amar.
O filme fala sobre os medos que afligem uma pessoa, seja ela quem for. Já parou para pensar quais são os seus medos e se seria possível lidar com eles, encará-los? Quem estiver esperando uma trama cheia de cenas picantes e corpos se roçando, pode se decepcionar. Ford está muito mais para as entrelinhas do que para o óbvio, muito mais para a beleza do que para o grotesco, muito mais para o romantismo do que para o imediatismo, muito mais para a sensualidade do que para o apelativo. O longa aborda entre outras coisas, a durabilidade de um relacionamento homossexual, um relacionamento verdadeiro que é rompido bruscamente por uma fatalidade.
O perfeccionismo do diretor no mundo da moda se reflete claramente no filme. Está tudo impecável, do figurino aos penteados. A vida de George está muito lenta e é assim que ele passa a ver o mundo que o cerca. Seus sentidos estão aflorados e tudo passa a ser percebido por ele. Os detalhes, os olhares, os gestos, os odores, as lembranças. Oito meses sem Jim não foram suficientes para acalmar seus ânimos. O tempo parece ter aflorado suas angústias, o levando ao precipício. Direito de Amar vem na contramão dos relacionamentos vazios e meramente quantitativos. George não se deixa levar pela oferta de sexo fácil na tentativa de aliviar momentaneamente sua dor, que no senso comum seria a solução mais viável e certeira de agradar o público.
Tudo está muito à flor da pele pelo fato de ter vivido um grande amor que durou 16 anos e só foi interrompido pela morte trágica. O filme não fala exatamente sobre o amor, mais sim sobre a ausência dele em tempos em que a durabilidade de um relacionamento é ínfima. Nessa era de deixar aflorar apenas os desejos carnais e a experimentação cada vez mais acelerada por relações frívolas e sem nenhum compromisso, Direito de Amar apresenta sutilmente a possibilidade de levar uma história de amor por longos anos, principalmente ao se tratar de um relacionamento homossexual, que geralmente não são duradouros.
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