O curta inicia com uma paisagem bucólica, mostrando um lugar simples, no meio do nada, aparentemente distante da vida urbana: a seca nordestina. É possível notar as galinhas, as cabras, e outros elementos da roça. Um lugar muito distante da realidade atual, do universo tecnológico e industrial vigente.
Tudo poderia ser belo e confortante, não fosse o espectador ser confrontado com uma cabra abatida para o corte logo a seguir. Ela está pendurada pelas patas traseiras e sem a pele – utilizada para dar origem a outros produtos. Sua carne, prestes a servir de alimento à família residente na casinha rural que se apresenta, pelo menos é o que dá a entender.
A imagem composta pela cabra morta é um tanto incômoda, pois podemos ver a carne ainda cheia de sangue, como se ela estivesse viva. Seus olhos abertos e meio tristes também impressionam. É através deles que o espectador é apresentado à dona da casa, que está no fogão à lenha preparando a comida, com movimentos lentos e rotatórios, combinando com a vida daquela família.
O rádio antigo, toca uma bela versão da música “Ave Maria” e emociona um senhor, possivelmente o dono da casa. Seus olhos são a prova disto. Ao seu lado, na parede, uma foto muito antiga, daquelas que parecem desenho, compõe o retrato da família, remetendo a uma outra era, onde as coisas eram outras, o mundo era outro, as pessoas eram outras... as descobertas também.
Os sinais de modernidade vão aparecendo gradativamente. O filho assiste ao filme do “Batman” na TV. A marca do boné também denota uma mudança e, por fim, a antena parabólica concretiza a entrada de outro mundo naquela casa. Há algo se transformando ali.
“Passadouro” traz uma visão nostálgica dos velhos tempos, uma alusão ao passado, um olhar pra dentro. Uma nova realidade invadindo a vida de gente simples, que sem perceber está sendo modificada. É como uma saudade de um tempo que ainda não passou, uma sombra do futuro.
Autoria: Everson Bertucci
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