quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dentro de In On It

Peça em cartaz no Teatro Faap traz de volta à cena paulistana trabalho de Enrique Diaz


Uma das características do diretor Enrique Diaz é trazer ao palco questionamentos metalingüísticos. A desconstrução do texto também está entre suas características, embora em In On It isto fique mais por parte de Daniel MacIvor, quem assina o texto. Quando dirigiu Ensaio.Hamlet, em 2004 pela Cia. dos Atores, apresentando uma montagem altamente inovadora e criativa, Diaz demonstrou que o texto é uma apenas uma das muitas ferramentas que se utiliza para um espetáculo funcionar, mas para isto uma boa equipe e atores afinados e integrados são fundamentais para um resultado eficaz.

Ensaio.Hamlet - construído a partir de Hamlet, de William Shakespeare - estreou no Rio de Janeiro, e fez curta temporada, em São Paulo, no Sesc Belenzinho. No elenco estavam Fernando Eiras, Malu Galli, Bel Garcia, César Augusto, Felipe Rocha, e Marcelo Olinto. A montagem foi bem recebida pela crítica e público que levou em conta a desconstrução do clássico, a direção e a entrega dos atores. Pelo mesmo princípio de pensar o teatro dentro do teatro, em 2006, Diaz montou A Gaivota, de Anton Tchekhov, que trazia os atores Emílio de Mello, Thierry Trémouroux, Alessandra Negrini, Felipe Rocha, Lorena da Silva, Isabel Teixeira e o próprio Enrique Diaz.

Repetindo a parceria com Fernando Eiras e Emílio de Mello, o diretor traz agora ao público a peça In On It, em cartaz atualmente no Teatro Faap. A montagem prova que não adianta uma encenação cheia de efeitos técnicos e visuais se o elenco não está preparado, se o ator não foi bem conduzido e explorado para transmitir a história do personagem com verdade, de dentro. O que In On It transmite é justamente isto: a exploração do ator para que ele consiga vivenciar os personagens da forma mais simples e honesta possível. Faz com que o público veja aqueles personagens por dentro e sem uso de adereços. Na peça, os atores Eiras e Mello não precisam elementos externos para interpretar uma mulher, um velho ou um adolescente. Seus personagens vêm de dentro.

Quando Diaz lança a proposta de colocar apenas dois atores em cena e fornece a eles apenas um casaco e duas cadeiras como únicos elementos de cena é porque o fundamental ali são os atores e como eles podem se relacionar com tais objetos contando uma história que envolve várias vidas, como é o caso da montagem. São dois atores que estão discutindo a melhor maneira de conduzir um espetáculo, de construir um texto, de dar credibilidade e verossimilhança àquelas personagens.

A maioria das vidas está dentro do casaco. É de lá que elas saem. O início do jogo cênico que é proposto ao público pode parecer meio estranho, um pouco forçado, mas aos poucos os atores vão dominando a situação e acabam fazendo com que a plateia entre dentro da história, da história que está saindo de dentro deles. As rápidas transformações, as trocas de personagem, os questionamentos sobre a montagem, o andamento das cenas, o auto-questionamento sobre as interpretações, o humor. Pontos muito bem explorados pela dupla, refletindo o papel da direção.

In On It desperta sentimentos diversos. Traz à tona tristezas transformadas em poesia, em beleza. Por um instante, aqueles um pouco mais sensíveis se veem mergulhados numa das histórias com tanta intensidade que se esquecem que é tudo encenação, que são dois atores passando uma cena e se entrega de tal forma que é possível sentir uma outra atmosfera criada através da palavra, da palavra que veio de dentro. De dentro também vem o choque com a realidade quando eles jogam um balde de água fria fazendo com que toda a poesia se evapore e puxando pelos pés os que se deixaram flutuar, jogando-os novamente nas poltronas quando o fim era dado como certo. Tudo é teatro! E os aplausos... de dentro.

Everson Bertucci

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Beyoncé através dos vagalumes

A diva da música pop leva multidão ao Estádio do Morumbi, em sua única apresentação no Estado



Depois de esperar durante 1 hora e 38 minutos, terminada a apresentação da cantora Ivete Sangalo, encarregada da abertura do tão esperado show da musa pop, Beyoncé, marcado para sábado (6), no Estádio do Morumbi – as luzes do local se apagaram por completo, precedendo a entrada da cantora. Se existia cansaço nas pessoas, que tanto esperaram por ela, ele se foi num segundo, e os gritos de delírio tomaram conta do estádio. Um minuto depois, exatamente às 22h22, a cortina se abriu com o clássico efeito da fumaça... e lá estava a diva.


Os fãs foram ao êxtase e o que se via eram centenas de máquinas fotográficas, filmadoras e celulares, todos apontados na mesma direção: o palco. Era possível ver a cantora refletida nas inúmeras maquininhas, que mais pareciam uma legião de vagalumes tecnológicos. Beyoncé soltou o vozeirão e seguiu com suas canções, já bem assimiladas pelo público. Quem conseguiu observar ao redor, percebia o estádio todo iluminado com as luzezinhas azuis dos aparelhos.

Seu primeiro figurino, bem insinuante por sinal, tinha um laço na parte traseira. Há quem comentasse o mal-gosto da escolha, mas bem que alguns homens expressaram, através de piadinhas, a vontade de puxar o laço e descobrir o presente que havia ali. Logo depois, a cantora entrou toda de branco, com o mar ao fundo, no telão. Em seguida, Beyoncé foi até a frente do palco e começou a cantar Ave Maria. Foi um dos momentos marcantes do evento, cheio de efeitos visuais.

Outro desses momentos de delírio foi quando a musa pronunciou as palavras São Paulo, com seu sotaque americano. Foi aplaudida e ovacionada. Por um momento, foi como se ela tivesse dito “acabou-se a fome e a miséria no mundo”, mas era apenas o nome da cidade mesmo. Se alguém foi ao show apenas para comprovar que a intérprete conquistou sua fama pelas belas pernas, bumbum arrebitado, cabelão turbinado e rosto bonito - juntado tudo numa boa produção audiovisual -, talvez tenha se surpreendido com a performance e fôlego da estrela.

Beyoncé desceu até a plateia, passou a mão em alguns fãs, beijou camisetas e jogou para o público (tudo como o manda o figurino), perguntou o nome de um fã e o incorporou numa das músicas. Também fez homenagem ao Brasil - carregando a bandeira nacional - e fez com que a multidão se entregasse a ela, num ritual que transcendeu qualquer explicação lógica. Independentemente de ter ou não qualidade, Beyoncé conseguiu cravar seu nome na história pop da música. Se isso vai longe? Só o tempo vai responder.

Um episódio inusitado foi quando entrou um vídeo ao som da música Single Ladies, com imagens de fãs reproduzindo a performance da estrela. Crianças, adolescentes, adultos, idosos, homens, mulheres, artistas e até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fazendo estripulias das mais inusitadas e hilárias com a música. Ao final da exibição, Beyoncé entrou com seus bailarinos e finalmente cantou o último número do show. Não houve quem não cantasse o refrão. Mesmo quem não suporte a música, sabe a letra. O mais curioso era ver que, até os marmanjos, faziam a cena da mãozinha (quem conhece a coreografia sabe do que se trata).

Encerrada a música, a diva saiu de cena, mas logo voltou para o bis. Entrou cantando Halo, fez homenagem a Michael Jackson e, exatamente à 0h17 do domingo (dia 7), finalizou a apresentação. A frase I am (que dá título à turnê) estava atrás dela, no telão, e quando Beyoncé fez sinal de que era o fim, a frase foi completada com Yours. As cortinas se fecharam com os aplausos de todo o estádio. E no telão: I am... Yours.

Beyoncé deu um show de profissionalismo e, no mínimo, comprovou que sabe conduzir uma plateia sedenta de entretenimento de qualidade. Se houve playback, ele não foi percebido. O que se notava, pelos telões, era muita emoção e deslumbramento no rostos dos fãs. Homens e mulheres chorando de alegria ou sabe-se lá por quê.

Everson Bertucci

Texto publicado no dia 08 de fevereiro de 2010 no link
http://www.onne.com.br/cesar/materia/variedades/12169/beyonc-em-s-o-paulo