quinta-feira, 25 de novembro de 2010

As Satyrianas - Uma Saudação à Primavera

A partir desta quinta-feira (dia 25), às 18h, o centro de São Paulo recebe a 11ª edição de um dos eventos culturais mais esperados do ano: As Satyrianas - Uma Saudação à Primavera. Em comemoração aos seus 10 anos na Praça Roosevelt, a Cia Satyros de Teatro promove o evento com 78 horas ininterruptas de programação envolvendo teatro, fotografia, exposições, palestras, cinema e música. O homenageado desta edição é o ator e crítico de teatro Alberto Guzik, que morreu neste anoe desenvolveu um papel fundamental na história do grupo.

Devido à reforma da Praça Roosevelt, o festival este ano fez uma parceria com o projeto Nova Augusta, que cedeu uma área entre as Ruas Augusta e Caio Prado para o encontro. Ao todo são mais de 30 espaços culturais que vão receber as atrações deste ano. O encerramento será neste domingo (dia 28), à meia-noite. Artistas renomados, como Elias Andreatto, Lauro César Muniz, Laís Bodansky, Marcelo Rubens Paiva, Marici Salomão, Rodolfo García Vázquez, Walcyr Carrasco, entre outros, apresentarão seus trabalhos durante o evento.

A grande festa cultural também receberá atrações internacionais, como os atores portugueses Óscar Silva e Pedro Barreiro, o diretor espanhol Pepe Nuñez e o uruguaio Hugo Rodas. Na tenda DramaMix, o público poderá conferir cenas curtas de até 20 minutos, de 50 dramaturgos, que serão encenadas por diversos atores e diretores da cena teatral paulista. Entre eles, Denise Fraga, Danton Mello, Mario Viana, Paula Cohen e Bruno Fagundes.

No Café Literário - que será realizado no Bar Rose Velt, na Praça Roosevelt, todos os dias a partir das 12h - artistas como Fernando Bonassi, Lourenço Mutarelli, Juliana Galdino, Jefferson Del Rios, Ingrid Dormien Koudela, entre outros, discutem temas em homenagem a Guzik.

Mais de 250 trabalhos de teatro, música e performance, foram enviados para apresentação no evento. Os selecionados se apresentarão no Espaço dos Satyros e na nova Tenda CenaMix, montada entre as ruas Augusta e Caio Prado. Outra novidade neste ano é o projeto Ouvi Contar, uma ousada experiência de teatro em domicílio, que será realizada em apartamentos da Praça Roosevelt, em uma parceria com a SP Escola de Teatro.

Nesta edição, o CineMix terá uma inovação: ao longo da festa será gravado e produzido o longa-metragem Satyrianas – 78 horas em 78 minutos, no formato documentário-ficção. Outra iniciativa inédita desta edição das Satyrianas são parcerias com os teatros Folha e Estúdio Emme, que ofereceram ingressos gratuitos para espetáculos em cartaz. Nos demais espetáculos do festival, o público é que decide quanto vale o show, pagando o ingresso consciente.

Outra atração que vai trazer o teatro para uma interação direta com o público é o Teatro da Vertigem, uma intervenção performática nas ruas da Bela Vista, durante o evento, a partir do texto Mauismo, de Fernando Bonassi. Trata-se de um exercício de investigação artística com caráter performático e de intervenção, que convida o público para o reconhecimento do espaço da cidade.

Outro destaque da programação deste ano é o Concurso Garotas Satyrianas 2010, em que mulheres, travestis e transexuais poderão concorrer.

Alguns destaques do festival:
Na programação geral de teatro, há destaques como os espetáculos dos Satyros: Roberto Zucco, Hipóteses Para o Amor e a Verdade, Justine, Filosofia da Alcova e Liz; Festival de Peças de Um Minuto, do Parlapatões; BOI, do diretor uruguaio Hugo Rodas; A Angústia desse Argumento, dos atores portugueses Óscar Silva e Pedro Barreiro; Lá Fora, Algum Pássaro dá Bom Dia, de Marcelo Rubens Paiva; Como ser uma Pessoa Pior, de Mário Bortolotto, entre outros.

Para ter acesso a toda a programação, incluindo, dança, fotografia, palestras e literatura, com todos os dias e horários, clique aqui.



As Satyrianas - Uma Saudação à Primavera
De 25 a 28 de novembro
78 horas de atividades culturais
Diversos espaços culturais
Pague o quanto puder.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

De Mãe para Filho

Empresário homossexual tem filho gerado no útero de sua própria mãe, no México



Jorge, um mexicano homossexual de 31 anos acabou de realizar o sonho de ser pai.
Para que seu filho pudesse ser pai, a mãe do empresário decidiu emprestar seu ventre para dar à luz ao bebê, se tornando assim mãe e avó ao mesmo tempo.


Em entrevista ao jornal Reforma, a mãe de Jorge declarou que foi seu primeiro neto. "Mas não o sinto assim porque também é meu quarto filho", completou. A mexicana, que preferiu não ser identificada, foi inseminada com o embrião do filho e os óvulos doados por uma amiga dele.

A proposta partiu da própria mãe de Jorge. Ela conta que teve a ideia após ver em um documentário que o melhor útero para fertilização em casos de barriga de aluguel é o da avó. “Minha mãe me dizia 'pense no bebê, uma mãe substituta luta todo o tempo para não querer a criança porque sabe que não poderá ficar com ela. Mas eu não, vai ser meu neto'”, conta o empresário.

As tentativas de inseminação artificial começaram em novembro de 2009, mesmo sabendo dos riscos que enfrentariam por conta da idade dela. Felizmente tudo ocorreu bem e o pequeno Dário nasceu no dia 1º de novembro, com 49 centímetros e pesando quase dois quilos e meio. O menino receberá os dois sobrenomes do pai.

No México, as leis permitem a prática da mãe substituta, desde que não haja negociação em dinheiro e se as mulheres tiverem parentesco em primeiro ou segundo grau, como avó, mãe ou irmã.


http://www.cesargiobbi.com.br/cesar/materia/variedades/14907/de-m-e-para-filho

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Outubro ou Nada

Jovem estudante sofre ataque homofóbico durante festa promovida por estudantes da Escola de Comunicações e Artes da USP


Henrique Andrade, de 21 anos, estudante de biologia pela Universidade de São Paulo (USP) e seu namorado, aluno do curso de Arquitetura, pela mesma instituição, alegou ter sido vítima de homofobia na madrugada de sábado (dia 23). Segundo afirma, ele e o namorado estavam sentados num sofá, abraçados e conversando, quando outros três jovens os surpreenderam com chutes e socos, além de palavrões homofóbicos. O fato ocorreu durante a festa Outubro ou Nada, realizada por alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, numa mansão localizada no Morumbi, em São Paulo.

O estudante registrou Boletim de Ocorrência na Polícia Civil de São Paulo. O jovem declarou que foi vítima de agressão física e moral, mas que não está a fim de punir ninguém. “Estou a fim de divulgar esse problema comigo para que ele seja discutido numa esfera mais ampla, buscar no futuro a criminalização da homofobia”, afirmou.

Henrique Andrade relata que os agressores estavam visivelmente alcoolizados. Eles tentaram intimidar o casal apontando cigarros acesos contra seus rostos. Duas garotas que estavam no local chamaram o segurança, mas este nada fez. “Nesse meio tempo, levei um tapa na cara na frente do segurança enquanto tentava dialogar com os indivíduos e um deles falou que eu e meu namorado estávamos marcados. A equipe de segurança só tomou uma atitude após a formação de um aglomerado indignado com a barbárie que estava acontecendo”, conta.


Segundo a vítima, os agressores também depredaram o carro de uma garota, na mesma noite, por ela ter dito que tinha amigos gays. “Eu e meu namorado estamos bem fisicamente, mas a agressão moral ainda dói. Estamos tomando as providências cabíveis juntamente com o Centro Acadêmico (CA) da Biologia e a Defensoria Pública do Estado de São Paulo”.

Após receber o relato de Henrique, o Centro Acadêmico de Biologia decidiu fazer uma moção de repúdio. O documento está sendo distribuído na USP solicitando assinaturas dos estudantes.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Elvis & Madona

Longa que aborda a história de amor entre travesti e lésbica leva troféu de Melhor Roteiro, no Festival do Rio


Nessa terça-feira (dia 5), aconteceu a cerimônia dos premiados no Festival do Rio de 2010, no Cine Odeon. A estatueta de Melhor Roteiro foi para o longa Elvis & Madona, que narra a trama de amor entre uma travesti, interpretada pelo ator Igor Cotrim, e uma lésbica, vivida por Simone Spoladore. Quem recebeu o troféu, das mãos do ator Marcos Palmeira, foi o diretor do longa, Marcelo Laffitte.

A ideia do filme surgiu quando o diretor estava num quarto de hotel, em Miami, e na TV estava passando um programa de auditório, de brigas familiares, onde o assunto era um pai, que 20 anos após ter abandonado a família voltou como travesti. Mas o que estava sendo discutido no programa não era o fato dele ter voltado travestido de mulher e sim porque ele se apaixonou e ‘roubou’ a mulher de seu próprio filho. Foi a partir daí que o diretor se inspirou e criou a trama de Elvis & Madona.


Para Laffitte, o mais envolvente do filme, segundo os comentários que têm ouvido, é a história de amor humana, verdadeira e divertida que o filme narra. Um comentário comum de espectadores é que, depois de cinco minutos de projeção, esquece-se totalmente que os personagens são uma lésbica e uma travesti.

O longa foi um dos destaques na edição 2009 do Festival Mix Brasil, também chamando a atenção em eventos internacionais como o Melbourne Queer Film Festival. Elvis & Madona é cheio de diálogos naturais e sem enfeites, construindo um universo perfeito onde o amor não conhece gênero, apenas o coração, segundo definição do próprio diretor. O longa rende risadas, mas também toca em temas sisudos, como o preconceito contra pessoas LGBT.

O filme também era um dos favoritos na categoria Melhor Filme, mas este troféu acabou ficando com Vips - Histórias Reais de um Mentiroso, produção estrelada por Wagner Moura que narra a história de um dos maiores vigaristas do Brasil.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Violência psicológica resulta em suicídio de rapaz homossexual, nos Estados Unidos

O bullying, tipo de prática vexatória, fez mais uma vítima no mês de setembro, nos Estados Unidos. Desta vez, o adolescente homossexual Tyler Clementi, de 18 anos, que cometeu suicídio depois de ter um vídeo íntimo seu divulgado na internet. O garoto foi vítima de uma brincadeira de mal gosto de um outro adolescente com quem dividia um quarto na Universidade Rutgers, onde ambos estudavam.

Tudo começou no dia 19 de setembro, quando Dharun Ravi, que dividia o quarto com Clementi, postou em seu twitter uma mensagem dizendo que seu amigo havia lhe pedido o quarto até meia-noite. Ravi concedeu o pedido ao colega de quarto, mas ligou a câmera do computador e foi para o quarto de outro rapaz, Molly Wei, também aluno da instituição. De lá, ambos ficaram assistindo Clementi trocando carícias com outro homem.

Na semana passada, a dupla Dharun Ravi e Molly Wei foi detida e acusada de espalhar o material pela internet. Eles devem ser indiciados por violação da vida privada. Os rapazes postaram o vídeo no iChat e também o repassaram para outros alunos da universidade, expondo a intimidade de Clementi.

Três dias após a publicação do material pela rede, o jovem – não suportando a humilhação a que foi exposto - se jogou da Ponte George Washington, que liga Nova York a Nova Jersey. Antes disso, ele publicou em seu facebook a seguinte mensagem: “Vou pular da ponte GW, lamento”.

A universidade iniciou investigação para apurar os fatos. O diretor da instituição, Richard McCormick, disse em nota que se os estudantes forem considerados culpados, serão punidos. Detalhe: o jovem Tyler Clementi havia acabado de entrar na faculdade.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ensina-me a Viver


Peça de teatro dirigida por João Falcão fica em cartaz no Teatro Tuca até o dia 26 de setembro

Para aqueles que não viram a montagem de Ensina-me a Viver - protagonizada por Glória Menezes e Arlindo Lopes, que já esteve em cartaz em São Paulo e Rio de Janeiro, sob a ótica do diretor João Falcão - há ainda a oportunidade de conferi-la a preços populares, em sua reestreia no Teatro Tuca, até o dia 26 de setembro.

Confesso que quando vi o nome de Glória Menezes no elenco fiquei com um pouco de receio, dado o desempenho da atriz na montagem Ricardo III - obra de Shakespeare, dirigida por Jô Soares – que valeu a pena somente pela atuação precisa de Marco Ricca no papel título. Sem desmerecer, é claro, alguns trabalhos marcantes da atriz em sua longa trajetória na televisão e cinema, embora a linguagem aqui seja outra.

Para quem não conhece o enredo de Ensina-me a Viver, a sinopse é simples e inusitada: seu autor, Colin Higgins (1941-1988), narra a história de um velho de quase 20 anos e uma menina sapeca, de quase 80. Pode parecer estranho, mas é isso mesmo. Arlindo Lopes dá vida a Harold, um garoto estranho que vive tramando seu próprio suicídio para chamar a atenção da mãe, enquanto Glória Menezes interpreta Maude, uma senhora com espírito jovial, cheia de encantos e muito esperta.

O encontro entre ambos acontece da forma um tanto quanto absurda: num cemitério. Maude aborda Harold e começa a conversar com ele. Aos poucos, tornando-se sua amiga, mesmo o garoto não lhe dando muita atenção nas primeiras abordagens. Ambos se envolvem numa relação de amizade que aos poucos vai se transformando até culminar no amor.

O espetáculo começa meio entediante e a gente fica com uma sensação meio incômoda e se perguntando onde isso vai dar. As respostas vão sendo apresentadas aos poucos e fazendo com que o público se envolva de tal forma a ponto de torcer para que o amor aconteça entre estes personagens de universos tão diferentes.

A direção de Falcão, que também assina a adaptação da peça, traz elementos lúdicos à montagem que são transpostos através da música, da iluminação e do jogo de cena que faz com as personagens. Ensina-me a Viver não é uma peça apenas de protagonistas. Seus coadjuvantes têm encantos fundamentais para que a trama funcione, como, por exemplo, as cinco personagens que o ator Antonio Fragoso encarna, um dos pontos altos do espetáculo. Em determinado momento - com a ajuda do elenco de apoio e da precisa iluminação - Fragoso vive três personagens que ficam em cena ao mesmo tempo.

Maude, com seus quase 80 anos, traz em si as traquinagens de uma criança - ora inconsequente, ora encantadora - e ao mesmo tempo, a sabedoria de quem não se apega às coisas materiais e supérfluas. Ela seduz pela poesia que enxerga em tudo e pela graça que consegue tirar daquilo que ninguém mais observa. Tudo isso é traduzido nas imagens lúdicas criadas pela direção.

Quando Harold percebe que sua vida mudou radicalmente, graças ao convívio com Maude, ela lhe faz uma surpresa na noite em que completa 80 anos. Quanto a Glória Menezes, desfeita a má impressão da montagem Ricardo III.

Everson Bertucci

Ensina-me a Viver
Tuca
R. Monte Alegre, 1024, Perdizes,
Sextas e sábados, às 21h30; domingos, às 19h
Até 26 de setembro
R$ 30 (inteira); R$ 15 (meia); R$ 10 (professores e alunos da PUC-SP)

Texto publicado no site www.cesargiobbi.com.br no dia 12 de agosto de 2010 http://www.onne.com.br/cesar/materia/teatro/14334/ensina-me-a-viver

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Gypsy


São Paulo recebe mais um musical da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho


Nesta sexta-feira (dia 23), às 21h30, São Paulo recebe uma versão do musical Gypsy, da Broadway. Com texto de Arthur Laurents, a montagem ganha versão brasileira de Claudio Botelho, direção de Charles Möeller, estrelado por Totia Meireles, Adriana Garambone, Eduardo Galvão e Renata Ricci, e ficará em cartaz no Teatro Alfa até o dia 17 de outubro.

A mega-produção brasileira conta com uma equipe de 38 atores, 17 músicos, além de 18 trocas de cenário e 140 figurinos. Quem traz o espetáculo a São Paulo, após temporada no Rio de Janeiro, é a dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, responsável por sucessos como Avenida Q, O Despertar da Primavera, A Noviça Rebelde, Sweet Charity e Sete, o Musical, entre outros que já passaram pela cidade.

A montagem é baseada na história real da stripper Gypsy Rose Lee (Adriana Garambone), apoiada na personagem de Rose (Totia Meireles), a mãe dominadora que sonha em transformar suas filhas em estrelas do teatro. Como pano de fundo, a virada que houve no entretenimento americano nas primeiras décadas do século passado, com a decadência do teatro de variedades e o surgimento do burlesco, um tipo de teatro adulto, sendo ápice do strip-tease de mulheres em apresentações para o público masculino.

Tudo o que se vê no musical é fruto da cabeça de Rose, que cria os números, ensaia as meninas, escolhe os artistas mirins que participarão dos shows. Trata-se de um musical que se escreve e se conta através dos olhos e ouvidos de uma personagem obstinada, mas na verdade não é tão talentosa assim.

“Gypsy é mesmo um clássico. A história é fascinante, permite várias leituras. Tem mais de 50 anos de montagens e remontagens na Broadway e em Londres”, diz Charles Möeller, diretor o espetáculo.

Foto: Robert Schwenck/Divulgação

Texto publicado no site Cesar Giobbi no dia 22 de julho de 2010
http://www.onne.com.br/cesar/materia/teatro/14077/gypsy

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dia histórico em que a Argentina aprovou o Casamento entre homossexuais


Dia 14 de julho. Guarde bem esta data, pois foi nela que a Argentina aprovou o casamento entre homossexuais. O país é o primeiro da América Latina a aprovar a união entre pessoas do mesmo sexo. Um dia histórico, sem dúvidas. O país se torna a 10ª nação do mundo a reconhecer que os homossexuais têm os mesmos direitos de casais heterossexuais, como casamento, adoção, herança e outros benefícios.

A briga foi acirrada. Houve protestos de grupos religiosos, que organizaram marcha em direção ao Senado alegando que a medida era uma afronta à família tradicional e à igreja. Mesmo assim a votação foi favorável à comunidade LGBT. Foram 33 votos a favor e 27 contra, fazendo com que os homossexuais tenham seus direitos reconhecidos legalmente.

Mas para virar lei, o projeto depende ainda da sanção da presidente Cristina Kirchner, que já deu sinais de ser favorável à medida. “É um dia histórico. Se trata da primeira vez em que legislamos a favor de uma minoria", comemorou o senador Miguel Pichetto, líder do governo no Senado.

Ativistas LGBT argentinos comemoraram a decisão do Senado. "A lei representa o reconhecimento de todos os direitos que implica o casamento e também o acesso à igualdade perante a lei, que é uma ferramenta indispensável para conseguir a igualdade social", disse a titular da Federação de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais da Argentina (FALGBT), María Rachid, em entrevista à agência Efe.

Com a aprovação, o país entra para a história como o 1º país da América Latina a permitir a união legal entre pessoas do mesmo sexo, ao lado de países como Bélgica, Islândia. Portugal, Suécia, África do Sul, Noruega, Holanda, Espanha e Canadá. Quem sabe outros países vizinhos, até mesmo o Brasil, siga o exemplo da Argentina e repense sobre a legalização da união entre homossexuais que, aliás, vem sendo discutida e reivindicada há muito tempo.

É claro que a aprovação da lei não significa o fim do preconceito e discriminação, mas com certeza é um bom começo.

Publicado no site Cesar Giobbi no dia 15 de julho de 2010
http://onne.com.br/cesar/materia/variedades/14001/14-de-julho

terça-feira, 22 de junho de 2010

Patrik 1.5 - O Filme

As Sutilezas do Preconceito


Estreou no dia 18 de junho, o longa Patrik 1.5, em apenas duas salas de cinema, em São Paulo. Uma no Cinesesc, outra no Frei Caneca Unibanco Arteplex. Dirigido por Ella Lemhagen, o filme aborda a temática homossexual pelo ângulo da adoção. Goran (Gustaf Skarsgård) e Sven (Torkel Petersson), um casal gay de uma cidadezinha da Suécia, decidem adotar uma criança. Eles entram com um pedido e após algum tempo, conseguem o que tanto queriam. Ficam sabendo que o pedido foi aceito e que um menino chamado Patrik, de 1,5 ano, será seu filho. Tudo seria perfeito, não fosse um erro de digitação: uma vírgula no lugar indevido.

Os clichês são transpostos logo na primeira sequência do longa. Desde a opção pelos créditos coloridos e piscantes até as flores de cores vibrantes espalhadas pelos jardins da vizinhança, culminando nas estampas das roupas de alguns personagens. Clichês estes que vão ficando em segundo, terceiro, quarto plano, quando a trama vai sendo apresentada. Primeiro conhecemos Goran, um simpático homem recém-mudado para a cidade, que está numa festa cheia de casais heterossexuais falando sobre relacionamentos. Os homens passam a apresentar suas esposas a Goran e logo perguntam onde está a sua. Neste momento entra Sven, e Goran o apresenta: “Este é Sven, meu marido!”.


As reações são de constrangimento. Sorrisos amarelos, olhares interrogativos. Mas o foco não é bem este. Ao conhecer melhor o casal, podemos conhecer um pouco de seus gostos musicais, seus jeitos diferentes de lidar com as coisas e saber o quão importante é para Goran a necessidade de ter um filho. Seu marido, Sven, é pai de uma adolescente de 16 anos – envergonhada pela sexualidade deste - fruto do mal sucedido casamento com a mãe da garota. Por isso, Sven não tem a mesma empolgação de Goran, mas concorda.

Eles dão entrada à papelada burocrática da adoção e logo chega uma correspondência os avisando que a Justiça está lhes dando a guarda de um menino por nome Patrik, de apenas 1.5 ano. Mas quem bate à sua porta é um outro Patrik, um adolescente de 15 anos, interpretado por Thomas Ljungman. O casal acha que houve um engano e tenta desfazer a troca, pois acreditam que seu Patrik, de um ano e meio, foi levado para outra família. Vão até a Assistência Social, mas como é fim de sexta-feira, não conseguem atendimento. Descobrem apenas que o adolescente é rebelde, tem passagens criminais e inúmeros problemas. Ficam apavorados ao saber que terão que passar alguns dias na mesma casa com o rapaz.

Bom, a trama é basicamente esta que acaba resultando na separação do casal e algumas confusões com a vizinhança. Aos poucos Goran e Patrik começam a se conhecer melhor. A convivência forçada faz com que ambos possam romper fronteiras, vencer preconceitos. O adolescente não suporta a ideia de ter que conviver com gays, mas aos poucos começa a ver Goran não como um homossexual, mas sim como alguém que está disposto a ajudá-lo, mesmo sabendo do seu passado conturbado.

Goran, no começo, sente um pouco de receio por causa do histórico de Patrik, mas começa a explorar o que de melhor o garoto tem. Ironicamente, Goran não tem habilidade com plantas e descobre que o garoto sabe como ninguém a lidar com elas. Começa aí uma aproximação que resultará em momentos empolgantes, de silêncio que dizem muito mais do que diálogos explicativos. Não se trata de um enredo surpreendente e cheio de surpresas, mas quem sabe uma ode às possibilidades que a vida, às vezes, pode reservar.

Como pano de fundo, o filme mostra como a sociedade ainda lida com estranheza ao se deparar com um casal homossexual vivendo tão próximo. Dizer que não se tem preconceito é sempre muito fácil e correto, mas e quando a realidade resolver bater à sua porta, como será?

Toc toc...

-- Meu nome é Patrik!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nelson Baskerville

Ator, diretor e artista plástico fala sobre sua carreira enquanto apresenta a sua São Paulo

Nascido em 1961 sob o signo de virgem, Nelson Barkerville tem em seu histórico artístico inúmeros trabalhos. O mais recente foi de repercussão nacional. O ator, diretor e artista plástico viveu o personagem Leandro, na novela Viver a Vida, da Rede Globo. Na trama, o ator interpretou o pai dos gêmeos Miguel e Jorge, vividos por Mateus Solano. Antes da novela, Baskerville participou da minissérie Maysa, exibida em 2009, em que interpretou o pai da cantora.


Mas é no teatro que Baskerville traz uma infinidade de trabalhos importantes com alguns dos principais grupos e artistas brasileiros que fazem parte da História do Teatro Brasileiro. Dirigiu espetáculos como Camino Real, de Tennessee Williams, Dublin Carol, de Conor McPherson, 17 X Nelson - O Inferno de Todos Nós, adaptação dos textos de Nelson Rodrigues e a mais recente Por que a Criança Cozinha na Polenta, de Aglaja Veteranyi, que esteve em cartaz até maio, no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt.

Como ator, formou-se em 1983 pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD-USP) e desde então participou de montagens como Uma Lição Longe Demais, de Zeno Wilde, A Megera Domada, Solness, o Construtor e Senhor de Porqueiral, do grupo Tapa, além de ter trabalhado com importantes nomes das artes cênicas, como o dramaturgo e roteirista Luis Alberto de Abreu e o diretor e dramaturgo Fauzi Arap.

E se você pensa que ele para por aí, se engana. Baskerville também se aventura pelas artes plásticas e sua participação em Viver a Vida, resultou na exposição Enquanto Vivi a Vida - em cartaz até domingo (dia 13), na Galeria Pop (R. Dr. Virgilio de Carvalho, 297, Pinheiros, tel.: 3081-7865) - além de ter adaptado textos de James Joyce e Frank Wedekind e conciliar tudo isso sendo professor de teatro há 18 anos.

Sobre projetos futuros, o artista conta que está em dois projetos teatrais: BlackBird, do escocês David Harrower, sob direção de Alexandre Tenório, com estreia marcada para agosto e Luis Antonio Gabriela, processo colaborativo com a Cia Mungunzá de Teatro, prevista para outubro. Na TV, fará participação no seriado As Cariocas, dirigido por Daniel Filho, baseado nas crônicas de Sérgio Porto e previsto para estrear no segundo semestre deste ano, na Globo. No cinema, acabou de filmar O Olho da Rua, que ainda não tem data marcada para estrear.

Bom, agora a gente respira um pouco enquanto conhece a São Paulo desse múltiplo artista, que atualmente mora no bairro da Aclimação.

Um lugar bom para namorar na cidade...
Ah, o Parque da Aclimação, menor que o Ibirapuera, porém mais charmoso, mais aconchegante. Bom pra namorar a qualquer hora.

Na cidade, os serviços que mais uso e recomendo são...
Restaurantes, bares, o metrô, a Santa Ifigenia, os parques Aclimação e Ibirapuera, o Masp e as galerias

Um lugar para relaxar...
Atualmente, a maca da Diane, na First Personal Studio, academia onde treino quatro vezes por semana, nas mãos de minha personal Patrícia Carbone

Um bom lugar para fazer compras...
Quer me ver feliz, me leve para compras na rua Santa Ifigênia, nem que eu não compre nada (o que é quase impossível) mas aquela movimentação toda me fascina! Também sou louco pela Fnac e Livraria Cultura

Um programa que recomendo...
Bem, o parque da Aclimação e a feira-livre da Castro Alves, aos sábados.

Lugares onde gosto de comer:
a) Restaurantes
Planetas, onde como há 20 anos, sob o olhar atento do Beto, o proprietário que abriga toda a classe teatral da cidade e todas as produções que vêm a São Paulo e o Shimpachi, na rua São Joaquim. O melhor japonês da cidade

b) Bar
Genésio

c) Doceria
Padaria Orquídea Pérola
, aqui da Aclimação também. Ambiente maravilhoso, pães dos “sonhos” e uma deliciosa sopa no inverno, até as 21h

d) Na Rua
Pastel na Feira da Aclimação, aos sábados

Quando o assunto é programa cultural, os locais onde mais gosto de ir são...

Adoro a Livraria/Galeria Pop, em Pinheiros e o Cine Belas Artes

Quando quero sair à noite, meus lugar preferido é...
Praça Roosevelt

O Melhor de São Paulo...
A vida cultural e gastronômica

O Pior de São Paulo...
O trânsito, apesar de eu ter resolvido isso há dois anos com minha motocicleta que, com todos os problemas de acidentes continua sendo uma alternativa saudável e rápida para o caos da cidade

Minha trilha sonora em São Paulo...
Luiz Tatit é a cara de São Paulo, um gênio, não canso de escutar. Adoro o Rumo também, a banda que ele formou nos anos 80.

No twitter, sigo...
Raquel Ripani, Christine Fernandes e Walcir Carrasco.

Livros que indico...
O Poder do Mito, de Joseph Campbell, que mudou minha vida, e Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce. Estes não saem nunca da minha cabeceira. Aglaja Veterany é genial no livro que eu adaptei para o teatro, Por que a criança cozinha na Polenta e Crime e Castigo, de Dostoiévski, e qualquer texto de Tennessee Williams

Peças teatrais que recomendo...
Êxodos – O Eclipse da Terra, do grupo Folias (em cartaz de quinta a domingo até 27 de junho, no Galpão do Folias, tel.: 3361-2223); As Meninas, dirigida por Yara Novaes (em cartaz aos sábados e domingos até o dia 25 de julho, no Viga Espaço Cênico, tel.: 3801-1843); e Namorados da Catedral Bêbada, de Francisco Carlos. É genial!

Uma exposição que recomendo...
Acho que pouca gente conhece o acervo permanente do Masp, um museu riquíssimo

Um filme inesquecível...
Woody Allen é sempre maravilhoso, mas adoro essa fase épico-brechtiana inaugurada por Match Point (filme de 2005) onde ele lança mão de uma dialética moderna para nos fazer pensar e decidir. Adorei Sinédoque New York (dirigido por Charlie Kaufman, com Philip Seymour Hoffman, e Samantha Morton). Gosto de qualquer coisa de Lars von Trier. Seu último filme, Anticristo, me perturba!

Montagens marcantes...
Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno, de Antunes Filho; Os Sertões, de Zé Celso; e Orestéia, de Marco Antonio Rodrigues

Um diretor (a) teatral...
Zé Celso

Um (a) ator/atriz...
Cacá Carvalho.


Everson Bertucci

Entrevista publicada no site Cesar Giobbi no dia 11 de junho de 2010

http://www.onne.com.br/cesar/materia/sao_paulo_do_meu_jeito/13582/nelson-baskerville


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Balanço da 14ª Parada Gay


Saiba como foi a maior manifestação LGTB do mundo que ocorreu nesse domingo (dia 6), na cidade de São Paulo

Foto: Vinícius Corrêa


São Paulo mais uma vez foi sede de outra bem sucedida Parada do Orgulho LGTB. Na sua 14ª edição, a manifestação fez com que milhões de pessoas se mobilizassem pela causa da diversidade. Nesse domingo (dia 6), a Avenida Paulista novamente ficou lotada de gente de todos os tipos, sexualidades, nacionalidades e diversas regiões do país. Com a temática Vote Contra a Homofobia – Defenda a Cidadania, os trios elétricos deste ano estavam decorados predominantemente pelas cores preta e branca. Mas não era apenas essas cores que despontaram pela mais famosa avenida do Brasil.

Desde cedo, era possível ver as pessoas nas ruas, chegando de todos os lugares e cidades mais próximas da capital, vindo de ônibus, de trem, de metrô, de táxi, à pé... enfim, elas simplesmente tomaram as ruas de São Paulo em direção à Paulista. A diversão e alegria eram expostas através das palavras, das roupas, das brincadeiras, das paqueras e das diversas personalidades que transitavam pela região.

De acordo com a Secretaria Pública da Segurança de São Paulo (SSP-SP), cerca de 1,4 mil policiais civis e militares foram designados para fazer a segurança das pessoas que foram lutar pela causa, ou simplesmente se divertir e prestigiar a grande manifestação pública, a maior do mundo. Também segundo informações do órgão, em 2009, o evento levou às ruas 3,1 milhões de pessoas. O número deste ano, até o momento, ainda não foi divulgado.

Por volta das 12h do domingo (dia 6), em frente ao prédio da Rádio Gazeta, os trios elétricos começaram o trajeto, que seguiu pela Avenida Paulista, desceu a Rua da Consolação até chegar ao ponto final: a Praça Roosevelt. Para os turistas estrangeiros que vieram participar da manifestação, havia policiais bilíngues que estavam devidamente identificados com as bandeiras dos países, além de policiais militares que dominam os seguintes idiomas: inglês, espanhol, italiano, alemão, francês e japonês, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.

Há quem tenha participado efetivamente da festa, indo às ruas levantando a bandeira da causa ou indiretamente, das sacadas e janelas das centenas de prédios por onde passou a passeata. Entre os manifestantes, a mais pura prova da diversidade. Os adolescentes à procura de uma paquera, heteros se enamorando, crianças fascinadas com tanta cor e novidade, grupo de travestis com seus seios à mostra, lésbicas de perucas roxas, go go boys se exibindo nos trios elétricos, drag-queens com suas performances alegóricas, transformistas com seus adereços criativos, vovós que acompanhavam pelas janelas dos apartamentos e gays que, como eles mesmos dizem, arrasavam na avenida.

Quanto às figuras públicas, Marta Suplicy estava presente na manifestação, como faz todos os anos. Já os principais candidatos à Presidência da República, Dilma Roussef, Marina Silva e José Serra não compareceram, nem por isso a festa deixou de seguir seu fluxo e quando os trios elétricos se aproximavam, literalmente, faziam o chão tremer. Ao som de Lady Gaga, Beyoncé, Madonna e outras tantas divas da música pop, e muita música eletrônica, todo mundo caiu da folia e levantou a bandeira contra a homofobia num som uníssono da canção “Se joga pintosa, põe rosa”, da drag Léo Áquilla, que vira e mexe tocava num ou noutro trio.

Alguns destes momentos foram registrados pelo fotógrafo sorocabano Vinícius Corrêa, de 21 anos, que levou para as ruas, além da sua câmera fotográfica, o seu olhar atento à manifestação. O resultado você confere nas imagens singulares que ilustram, exclusivamente, esse texto.


Everson Bertucci

Texto publicado no dia 7 de junho de 2010 no link abaixo:

http://www.onne.com.br/cesar/materia/variedades/13519/balan-o-da-14-parada-gay

quarta-feira, 24 de março de 2010

George & Jim

Um olhar sobre o primeiro longa de Tom Ford



A safra de filmes com temática homossexual tem crescido consideravelmente, embora seja a maior parte voltada ao universo masculino. Recentemente o cinema nacional abordou o romance incestuoso entre dois irmãos, e no início do mês chegou às telas do país o primeiro longa do estilista e agora diretor Tom Ford. Trata-se da história de George (Colin Firth), um professor de meia idade que não se acostuma com a morte se seu companheiro Jim (Mattew Goode), que morreu num acidente de carro. Após o rompimento forçado de seu relacionamento, o professor passa a sentir a dor da perda de seu grande amor e passa a conviver com a incapacidade de lidar com isto. Essa é a trama principal de A Single Man, que aqui no Brasil ganhou o título Direito de Amar.

O filme fala sobre os medos que afligem uma pessoa, seja ela quem for. Já parou para pensar quais são os seus medos e se seria possível lidar com eles, encará-los? Quem estiver esperando uma trama cheia de cenas picantes e corpos se roçando, pode se decepcionar. Ford está muito mais para as entrelinhas do que para o óbvio, muito mais para a beleza do que para o grotesco, muito mais para o romantismo do que para o imediatismo, muito mais para a sensualidade do que para o apelativo. O longa aborda entre outras coisas, a durabilidade de um relacionamento homossexual, um relacionamento verdadeiro que é rompido bruscamente por uma fatalidade.

O perfeccionismo do diretor no mundo da moda se reflete claramente no filme. Está tudo impecável, do figurino aos penteados. A vida de George está muito lenta e é assim que ele passa a ver o mundo que o cerca. Seus sentidos estão aflorados e tudo passa a ser percebido por ele. Os detalhes, os olhares, os gestos, os odores, as lembranças. Oito meses sem Jim não foram suficientes para acalmar seus ânimos. O tempo parece ter aflorado suas angústias, o levando ao precipício. Direito de Amar vem na contramão dos relacionamentos vazios e meramente quantitativos. George não se deixa levar pela oferta de sexo fácil na tentativa de aliviar momentaneamente sua dor, que no senso comum seria a solução mais viável e certeira de agradar o público.

Tudo está muito à flor da pele pelo fato de ter vivido um grande amor que durou 16 anos e só foi interrompido pela morte trágica. O filme não fala exatamente sobre o amor, mais sim sobre a ausência dele em tempos em que a durabilidade de um relacionamento é ínfima. Nessa era de deixar aflorar apenas os desejos carnais e a experimentação cada vez mais acelerada por relações frívolas e sem nenhum compromisso, Direito de Amar apresenta sutilmente a possibilidade de levar uma história de amor por longos anos, principalmente ao se tratar de um relacionamento homossexual, que geralmente não são duradouros.

domingo, 21 de março de 2010

Durabilidade e Frivolidade - conto

Rafael conheceu Jonas numa boate. Mal deu tempo de se atrair direito porque Jonas se aproximou de forma tão rápida que o primeiro beijo veio sem muito pensar. Bom o suficiente para continuar por muitos minutos. Jonas estava regido pelo álcool. Rafael, pelo romantismo de sempre e pela insistência em acreditar que ainda possa haver beleza nas ações das pessoas. Mas logo Rafael percebeu que o lance de Jonas era apenas diversão e sexo, mas naquele momento era conveniente aproveitar e se divertir enquanto durasse o efeito do álcool.


Jonas logo tratou de sentir de perto o quanto Rafael estava excitado. E ele realmente estava e a coisa foi esquentando tanto que logo estavam trancados no banheiro e o sexo foi apenas consequência. Após o ato, Rafael pensou que dali cada um seguiria seu rumo, como acontecia sempre, mesmo contra sua vontade. Mas foi surpreendido pela atitude de Jonas, que mudou bastante seu comportamento. Foi ficando mais carinhoso, atencioso, jovial. Foram para a pista e ficaram dançando a noite toda. Seus beijos foram embalados pelos mais empolgantes flashbacks.


Rafael sabia que estava consciente e como sempre ficou fantasiando uma relação posterior. Sabia que as chances eram pequenas, mas sempre preferiu acreditar nas possibilidades. Já havia se decepcionado em tantas outras histórias, mesmo assim nunca deixou de acreditar que assim como ele, deveria existir mais alguém no mundo que também estivesse procurando alguém para namorar, para curtir, e para dividir uma história. Não queria sair dali e pensar que sua chance estaria vindo de forma torta. Resolveu apostar, principalmente porque Jonas estava se entregando e parecia mesmo de verdade.


Continuaram dançando com mais alguns amigos de Jonas até que o dia amanheceu e tiveram que sair. Na rua, ficaram abraçados enquanto conversavam numa esquina. Rafael ouvia a conversa de Jonas e de seus amigos, também alcoolizados. Eles riam de tudo, falavam sem parar e mesmo se sentindo um estranho naquela situação, quis ficar e aproveitar os momentos bons que estava vivendo. Jonas continuou carinhoso e Rafael resolveu se dar uma chance. Aceitou de prontidão o convite de Jonas de irem a uma festa de aniversário com pessoas que nunca poderia encontrar numa outra situação.


No aniversário, foi recebido por Jonas com um beijo caloroso, um abraço forte e em seguida o deixou sozinho para que interagisse com as outras pessoas, mas Rafael não conseguiu. Ficava quieto nos cantos, disfarçava um sorriso para um, um gole de cerveja com outro, uma frase, um gesto leve. Mas, e Jonas? Se divertia e conversava com todos, menos com Rafael. Vez ou outra passava, dava um beijo e saía para curtir. Rafael se sentiu só, mas tentou compreender que esse era o jeito de Jonas. Mais tarde, eles se entenderam, foram para um quarto e deixaram o desejo tomar conta de si. Dormiram. No dia seguinte foram embora juntos. Poucas palavras. Era o fim, pensou Rafael.


Estava enganado. Logo que se separaram recebeu uma mensagem de Jonas, em seu celular. Era uma daquelas frases bonitinhas, capazes de destruir qualquer possibilidade de indiferença. Ficou feliz e retribuiu. E assim foram dezenas de mensagens durante toda a semana. Novamente se encontraram na mesma casa da festa do aniversário, só que agora ,com bem menos pessoas. Para tentar um entrosamento com o pessoal, resolveu tomar seu primeiro porre. O vinho mais vagabundo. Todos beberam, fumaram. Não queria acreditar que Jonas não era para uma pessoa apenas. Era do mundo.


Mesmo com todas as evidências, continuou acreditando que a história deles poderia ter continuidade pela força de seus beijos. Mesmo estranhando um pouco, Rafael curtiu o momento e procurou não ficar questionando muito. Dormiu num sofá qualquer sob o efeito do vinho. Acordou super cedo com a cabeça latejando. Ai, isso é que é a tal da ressaca, pensou interrogativamente. Mesmo depois de tudo, Rafael e Jonas foram embora juntos novamente. Rafael sempre se perguntando o que aconteceria após se separarem. Nem precisou pensar muito. Minutos depois seu celular apitou. Era mensagem de Jonas. Ficou feliz.


Continuaram se falando durante a semana. Não tocaram no assunto e marcaram uma balada na sexta. Foram juntos e Jonas mantinha sempre uma certa distância. Na boate, Jonas se demonstrou muito distante, embora estivessem juntos o tempo todo. Rafael não entendia por que Jonas dançava com todas as garotas da festa, se apresentava e ficava logo amigo de todas elas e o deixava em segundo plano. Várias garotas foram se aproximando e entravam na roda para dançar com ele. Rafael não sabia lidar direito com a situação e tentava disfarçar um sorriso, mas no fundo estava se sentindo sozinho. Jonas dava selinhos e dançava coladinho a todas. Mal sabia ele que Rafael estava querendo a mesma coisa.


Num momento, o casal foi para outro ambiente com duas garotas que Jonas tinha conquistado a amizade. Enquanto Rafael conversava com uma, Jonas conversava com a outra, até que Jonas a beijou na frente de Rafael, que não soube reagir. Não sentiu ciúme, sentiu-se só. Eles estavam juntos, e novamente Rafael tentou ficar bem perante aquela cena desagradável. Depois conversaram e Jonas disse que foi apenas um beijo e justificou: ela é mulher e estava carente! Jonas reafirmou que estavam juntos, mas que poderiam beijar mulheres, só não poderiam beijar homens. Rafael entendeu e como estava combinado, não se importaria mais.


De volta à pista, refletiu e chegou à conclusão que após aquela noite daria um basta e que não mais se submeteria a uma situação assim. Gostava muito de Jonas, mas teria que gostar mais de si próprio. Procurou se divertir também com outras garotas, dançou. O problema é que Jonas tinha uma vivacidade, uma energia e um jeito tão especial de tratar as pessoas que Rafael não sabia direito a que conclusão chegar. De repente, passa entre eles um jovem cadeirante. Uma moça empurrava a cadeira de rodas e as pessoas abriram caminho para ele passar. O rapaz estava super feliz, dançando em sua cadeira e Jonas não hexitou: começou a interagir com o jovem e os dois começaram a dançar.


Jonas segurou a mão do rapaz e os dois dançaram. Jonas rodava a cadeira, rodopiava, beijava a mão do rapaz. O cadeirante estava visivelmente encantado com a abordagem tão gentil. Rafael se sentiu desarmado. Como posso me deixar levar por tanta mesquinharia perante esse gesto tão nobre, se perguntava ele, que havia se deparado com o que de mais belo poderia encontrar em seu caminho. Possivelmente Jonas nunca saberá que aquele ato ficou imortalizado na cabeça de Rafael. Uma das cenas mais bonitas já vistas por ele. Tudo se tornou muito pequeno perante todas as outras coisas.


Eles voltaram pra casa juntos. Logo ao se separarem, a mesma dúvida de sempre: será que vai continuar? Dois minutos depois uma mensagem no celular sinalizava que sim. E outras e outras e outras. Até que Jonas sumiu por um dia. Ficou sem responder mensagens, sem se manifestar e Rafael percebeu que estava muito mais envolvido do que imaginava. Depois Jonas mandou uma mensagem com uma desculpa que Rafael não acreditou, nem questionou. Não se achou no direito, preferiu calar. E continuaram trocando mensagens carinhosas, envolventes. Dois dias depois marcaram um encontro.


Se encontraram e Jonas avisou Rafael que a garota que ele tinha beijado, naquela balada, também participaria do encontro. Tinham se tornado amigos. Rafael não soube direito o que fazer, nem tinha. Foram caminhando até onde haviam marcado e ao atravessar a rua Jonas disse que gostava muito dele, mas que deveriam ser apenas amigos. Rafael já havia tido todos os sinais possíveis e não quis acreditar neles. Não disse nada. A garota chegou, se cumprimentaram, foram para um bar. Conversaram civilizadamente. Depois de alguns minutos Rafael se despediu do casal e foi para sua aula sabendo que o mundo que o cerca não vai mudar, assim como sabia que esse mesmo mundo não o faria deixar de acreditar nas possibilidades de uma história de verdade. E seguiu caminhando.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dourado x Angélica no BBB 10


Eliminação de lésbica causou discussões envolta da temática homofóbica


A eliminação da sister Angélica, ex-participante do BBB 10, da Globo, gerou diversos questionamentos sobre preconceito e intolerância que repercutiu não só no Brasil, como no mundo. O fato foi que o sétimo paredão, envolvendo os outros dois brothers Dourado e Dicésar, vai muito mais além do que um veredito de homofobia.

Não dá para ficar julgando que a rivalidade entre Dourado e Angélica tenha sido fruto de preconceito sexual. É só voltar a fita e ver que os dois estavam se dando muito bem. Até confidentes eles eram. Quem viu deve lembrar do dia em que ela pediu a opinião dele sobre o que ele faria se estivesse gostando de alguém da casa e ele disse que não saberia agir, mas se ela sentisse abertura em relação a uma das garotas, que fosse em frente e investisse. Ele ressaltou que é muito tímido para tomar iniciativa, mas que se ela deveria agir, se sentisse vontade.

Tudo ia bem entre eles até o momento em que Dourado, numa das conversas envolvendo Lia, declarou que tinha ficado feliz por esta ter voltado do paredão que eliminou Lena. Ele disse ter ficado contente por ela ter ficado, já que a considera sua aliada no jogo. O fato do brother ter usado a palavra aliada, ao invés de amiga, deixou Angélica incomodada porque ela cansava de dizer que “jogava com o coração”, dentro da disputa. Ela o questionou e eles entraram em atrito. Nem a própria Lia se incomodou com a forma que Dourado a caracterizou, o que também incomodou Angélica. Chamar isto de homofobia é precipitar-se demais. Não foi a sexualidade o pivô da discussão. O fato de um hetero brigar com um homossexual o caracteriza em delito homofóbico?

Claro que todo esse rebuliço não anula as grosserias de Dourado. Que ele tenha proferido várias frases preconceituosas contra os gays é inegável e claramente perceptível, assim como é possível ver que o moço consegue fazer uma auto-análise e voltar atrás sobre suas declarações e comportamento. Quem é que não lembra da cena envolvendo ele e Serginho numa das refeições na casa, em que ele perdeu o apetite quando o garoto começou a falar sobre sexo envolvendo homens? Foi realmente um comentário muito infeliz da parte dele, mas que depois ele reconheceu o erro e conversou com Serginho frente a frente, reconhecendo a grosseria e se desculpando. Se tudo não passou de jogo é outra história.

O fato dele ter declarado abertamente que gostaria que Angélica deixasse o jogo foi porque ela,que se dizia “jogar com o coração”, foi contar toda a história para outros participantes e combinar voto para colocá-lo no paredão. Isso é jogar com o coração? (se é que se pode considerar frase tão infame e penosa aos ouvidos). Ele percebeu a trama de Angélica e a briga ficou ainda pior. Só porque alguém da casa vota em alguém que é gay isso o torna homofóbico? Vale lembrar que o próprio Serginho votou em Angélica, quando saíram do quarto branco, sem saber que ela já estava emparedada por decisão da casa. Lembrar também que Dicésar votou em Serginho sem saber que este tinha ganhado a imunidade do público ao permanecer por 50 horas confinado no tal quarto. Dicésar tinha a opção de votar em Cláudia, que não é lésbica, em defesa dos coloridos Serginho e Angélica, mas não o fez.

Declarações homofóbicas Dourado realmente já proferiu aos punhados na 10ª edição do BBB, assim como também está mostrando que consegue perceber seus erros, consegue discutir e ouvir os outros e parece que está aprendendo muito com isso. Mas afirmar que o Brasil é homofóbico apenas, levando em conta a eliminação de uma candidata lésbica, é no mínimo, precipitado. Talvez tenha ficado muito mais em evidência o fato de Angélica ter feito o que condenava em Dourado: a combinação de votos. Talvez o fato dela ter “causado intriga, feito fofoca”, como ele próprio acusou o tempo todo, tenha sido um dos motivos que levou à sua eliminação até porque tinha outro candidato gay no paredão, Dicésar, que ficou apenas com 7% dos 77 milhões de votos. Por que ele também não foi alvo dos votos? Vale refletir.

Sabe-se que o caso ganhou notoriedade em diversas partes do mundo e a comunidade gay se mobilizou em defesa da moça. Até o músico Boy George fez declarações e pedidos no Twitter. Ele escreveu que um homofóbico lidera o BBB 10 e pediu para que os brasileiros o eliminassem do programa, se referindo a Dourado. Se formos nomenclaturar tal declaração como poderíamos chamá-la? Heterofobia? Se for seguir a lógica usada contra Dourado, parece que sim. Mas não vem ao caso ficar inventado mais moda.

Dourado, assim como outros brasileiros não sabem lidar com a homossexualidade, mas isto não os torna homofóbicos, talvez ignorantes. Dentro da própria comunidade gay existem divergências. Tem gay que não suporta e até faz comentários maldosos em relação a outros gays. Tem gay musculoso que não tolera gay afeminado. Tem afeminado que não admite relação com gays mais reservados. Os mais reservados que não aguentam os mais cult´s. Os cult´s que não se dão bem com os mais esnobes... Assim como no universo heterossexual, mulheres e homens não se dão bem com outras mulheres e homens, mas não por causa de suas sexualidades e sim pelo convívio, pelos gostos, pelas afinidades, pelas escolhas... enfim, motivos é o que não faltam para gostar ou desgostar de alguém e nem sempre a sexualidade é o principal fator.

Se o Brasil é tão homofóbico como foi dito por várias pessoas por causa da eliminação de Angélica, como esse mesmo Brasil deu o prêmio máximo, do BBB 5, ao gay assumido Jean Wyllys? Ele venceu porque mostrou ter uma personalidade que causou identificação na maioria do público. Mostrou seu caráter, seu carisma, sua autenticidade e sua simpatia, independente da sexualidade. Ele não foi eleito por ser gay. Foi eleito por ter demonstrado saber conviver, respeitar e se relacionar com o outro da forma mais íntegra possível. Outros candidatos homossexuais passaram pela casa, em outras edições e foram eliminados como outros tantos heterossexuais que nada ou pouco tinham a acrescentar ou a mostrar. E assim continuará sendo.

Everson Bertucci

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dentro de In On It

Peça em cartaz no Teatro Faap traz de volta à cena paulistana trabalho de Enrique Diaz


Uma das características do diretor Enrique Diaz é trazer ao palco questionamentos metalingüísticos. A desconstrução do texto também está entre suas características, embora em In On It isto fique mais por parte de Daniel MacIvor, quem assina o texto. Quando dirigiu Ensaio.Hamlet, em 2004 pela Cia. dos Atores, apresentando uma montagem altamente inovadora e criativa, Diaz demonstrou que o texto é uma apenas uma das muitas ferramentas que se utiliza para um espetáculo funcionar, mas para isto uma boa equipe e atores afinados e integrados são fundamentais para um resultado eficaz.

Ensaio.Hamlet - construído a partir de Hamlet, de William Shakespeare - estreou no Rio de Janeiro, e fez curta temporada, em São Paulo, no Sesc Belenzinho. No elenco estavam Fernando Eiras, Malu Galli, Bel Garcia, César Augusto, Felipe Rocha, e Marcelo Olinto. A montagem foi bem recebida pela crítica e público que levou em conta a desconstrução do clássico, a direção e a entrega dos atores. Pelo mesmo princípio de pensar o teatro dentro do teatro, em 2006, Diaz montou A Gaivota, de Anton Tchekhov, que trazia os atores Emílio de Mello, Thierry Trémouroux, Alessandra Negrini, Felipe Rocha, Lorena da Silva, Isabel Teixeira e o próprio Enrique Diaz.

Repetindo a parceria com Fernando Eiras e Emílio de Mello, o diretor traz agora ao público a peça In On It, em cartaz atualmente no Teatro Faap. A montagem prova que não adianta uma encenação cheia de efeitos técnicos e visuais se o elenco não está preparado, se o ator não foi bem conduzido e explorado para transmitir a história do personagem com verdade, de dentro. O que In On It transmite é justamente isto: a exploração do ator para que ele consiga vivenciar os personagens da forma mais simples e honesta possível. Faz com que o público veja aqueles personagens por dentro e sem uso de adereços. Na peça, os atores Eiras e Mello não precisam elementos externos para interpretar uma mulher, um velho ou um adolescente. Seus personagens vêm de dentro.

Quando Diaz lança a proposta de colocar apenas dois atores em cena e fornece a eles apenas um casaco e duas cadeiras como únicos elementos de cena é porque o fundamental ali são os atores e como eles podem se relacionar com tais objetos contando uma história que envolve várias vidas, como é o caso da montagem. São dois atores que estão discutindo a melhor maneira de conduzir um espetáculo, de construir um texto, de dar credibilidade e verossimilhança àquelas personagens.

A maioria das vidas está dentro do casaco. É de lá que elas saem. O início do jogo cênico que é proposto ao público pode parecer meio estranho, um pouco forçado, mas aos poucos os atores vão dominando a situação e acabam fazendo com que a plateia entre dentro da história, da história que está saindo de dentro deles. As rápidas transformações, as trocas de personagem, os questionamentos sobre a montagem, o andamento das cenas, o auto-questionamento sobre as interpretações, o humor. Pontos muito bem explorados pela dupla, refletindo o papel da direção.

In On It desperta sentimentos diversos. Traz à tona tristezas transformadas em poesia, em beleza. Por um instante, aqueles um pouco mais sensíveis se veem mergulhados numa das histórias com tanta intensidade que se esquecem que é tudo encenação, que são dois atores passando uma cena e se entrega de tal forma que é possível sentir uma outra atmosfera criada através da palavra, da palavra que veio de dentro. De dentro também vem o choque com a realidade quando eles jogam um balde de água fria fazendo com que toda a poesia se evapore e puxando pelos pés os que se deixaram flutuar, jogando-os novamente nas poltronas quando o fim era dado como certo. Tudo é teatro! E os aplausos... de dentro.

Everson Bertucci

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Beyoncé através dos vagalumes

A diva da música pop leva multidão ao Estádio do Morumbi, em sua única apresentação no Estado



Depois de esperar durante 1 hora e 38 minutos, terminada a apresentação da cantora Ivete Sangalo, encarregada da abertura do tão esperado show da musa pop, Beyoncé, marcado para sábado (6), no Estádio do Morumbi – as luzes do local se apagaram por completo, precedendo a entrada da cantora. Se existia cansaço nas pessoas, que tanto esperaram por ela, ele se foi num segundo, e os gritos de delírio tomaram conta do estádio. Um minuto depois, exatamente às 22h22, a cortina se abriu com o clássico efeito da fumaça... e lá estava a diva.


Os fãs foram ao êxtase e o que se via eram centenas de máquinas fotográficas, filmadoras e celulares, todos apontados na mesma direção: o palco. Era possível ver a cantora refletida nas inúmeras maquininhas, que mais pareciam uma legião de vagalumes tecnológicos. Beyoncé soltou o vozeirão e seguiu com suas canções, já bem assimiladas pelo público. Quem conseguiu observar ao redor, percebia o estádio todo iluminado com as luzezinhas azuis dos aparelhos.

Seu primeiro figurino, bem insinuante por sinal, tinha um laço na parte traseira. Há quem comentasse o mal-gosto da escolha, mas bem que alguns homens expressaram, através de piadinhas, a vontade de puxar o laço e descobrir o presente que havia ali. Logo depois, a cantora entrou toda de branco, com o mar ao fundo, no telão. Em seguida, Beyoncé foi até a frente do palco e começou a cantar Ave Maria. Foi um dos momentos marcantes do evento, cheio de efeitos visuais.

Outro desses momentos de delírio foi quando a musa pronunciou as palavras São Paulo, com seu sotaque americano. Foi aplaudida e ovacionada. Por um momento, foi como se ela tivesse dito “acabou-se a fome e a miséria no mundo”, mas era apenas o nome da cidade mesmo. Se alguém foi ao show apenas para comprovar que a intérprete conquistou sua fama pelas belas pernas, bumbum arrebitado, cabelão turbinado e rosto bonito - juntado tudo numa boa produção audiovisual -, talvez tenha se surpreendido com a performance e fôlego da estrela.

Beyoncé desceu até a plateia, passou a mão em alguns fãs, beijou camisetas e jogou para o público (tudo como o manda o figurino), perguntou o nome de um fã e o incorporou numa das músicas. Também fez homenagem ao Brasil - carregando a bandeira nacional - e fez com que a multidão se entregasse a ela, num ritual que transcendeu qualquer explicação lógica. Independentemente de ter ou não qualidade, Beyoncé conseguiu cravar seu nome na história pop da música. Se isso vai longe? Só o tempo vai responder.

Um episódio inusitado foi quando entrou um vídeo ao som da música Single Ladies, com imagens de fãs reproduzindo a performance da estrela. Crianças, adolescentes, adultos, idosos, homens, mulheres, artistas e até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fazendo estripulias das mais inusitadas e hilárias com a música. Ao final da exibição, Beyoncé entrou com seus bailarinos e finalmente cantou o último número do show. Não houve quem não cantasse o refrão. Mesmo quem não suporte a música, sabe a letra. O mais curioso era ver que, até os marmanjos, faziam a cena da mãozinha (quem conhece a coreografia sabe do que se trata).

Encerrada a música, a diva saiu de cena, mas logo voltou para o bis. Entrou cantando Halo, fez homenagem a Michael Jackson e, exatamente à 0h17 do domingo (dia 7), finalizou a apresentação. A frase I am (que dá título à turnê) estava atrás dela, no telão, e quando Beyoncé fez sinal de que era o fim, a frase foi completada com Yours. As cortinas se fecharam com os aplausos de todo o estádio. E no telão: I am... Yours.

Beyoncé deu um show de profissionalismo e, no mínimo, comprovou que sabe conduzir uma plateia sedenta de entretenimento de qualidade. Se houve playback, ele não foi percebido. O que se notava, pelos telões, era muita emoção e deslumbramento no rostos dos fãs. Homens e mulheres chorando de alegria ou sabe-se lá por quê.

Everson Bertucci

Texto publicado no dia 08 de fevereiro de 2010 no link
http://www.onne.com.br/cesar/materia/variedades/12169/beyonc-em-s-o-paulo