terça-feira, 22 de junho de 2010

Patrik 1.5 - O Filme

As Sutilezas do Preconceito


Estreou no dia 18 de junho, o longa Patrik 1.5, em apenas duas salas de cinema, em São Paulo. Uma no Cinesesc, outra no Frei Caneca Unibanco Arteplex. Dirigido por Ella Lemhagen, o filme aborda a temática homossexual pelo ângulo da adoção. Goran (Gustaf Skarsgård) e Sven (Torkel Petersson), um casal gay de uma cidadezinha da Suécia, decidem adotar uma criança. Eles entram com um pedido e após algum tempo, conseguem o que tanto queriam. Ficam sabendo que o pedido foi aceito e que um menino chamado Patrik, de 1,5 ano, será seu filho. Tudo seria perfeito, não fosse um erro de digitação: uma vírgula no lugar indevido.

Os clichês são transpostos logo na primeira sequência do longa. Desde a opção pelos créditos coloridos e piscantes até as flores de cores vibrantes espalhadas pelos jardins da vizinhança, culminando nas estampas das roupas de alguns personagens. Clichês estes que vão ficando em segundo, terceiro, quarto plano, quando a trama vai sendo apresentada. Primeiro conhecemos Goran, um simpático homem recém-mudado para a cidade, que está numa festa cheia de casais heterossexuais falando sobre relacionamentos. Os homens passam a apresentar suas esposas a Goran e logo perguntam onde está a sua. Neste momento entra Sven, e Goran o apresenta: “Este é Sven, meu marido!”.


As reações são de constrangimento. Sorrisos amarelos, olhares interrogativos. Mas o foco não é bem este. Ao conhecer melhor o casal, podemos conhecer um pouco de seus gostos musicais, seus jeitos diferentes de lidar com as coisas e saber o quão importante é para Goran a necessidade de ter um filho. Seu marido, Sven, é pai de uma adolescente de 16 anos – envergonhada pela sexualidade deste - fruto do mal sucedido casamento com a mãe da garota. Por isso, Sven não tem a mesma empolgação de Goran, mas concorda.

Eles dão entrada à papelada burocrática da adoção e logo chega uma correspondência os avisando que a Justiça está lhes dando a guarda de um menino por nome Patrik, de apenas 1.5 ano. Mas quem bate à sua porta é um outro Patrik, um adolescente de 15 anos, interpretado por Thomas Ljungman. O casal acha que houve um engano e tenta desfazer a troca, pois acreditam que seu Patrik, de um ano e meio, foi levado para outra família. Vão até a Assistência Social, mas como é fim de sexta-feira, não conseguem atendimento. Descobrem apenas que o adolescente é rebelde, tem passagens criminais e inúmeros problemas. Ficam apavorados ao saber que terão que passar alguns dias na mesma casa com o rapaz.

Bom, a trama é basicamente esta que acaba resultando na separação do casal e algumas confusões com a vizinhança. Aos poucos Goran e Patrik começam a se conhecer melhor. A convivência forçada faz com que ambos possam romper fronteiras, vencer preconceitos. O adolescente não suporta a ideia de ter que conviver com gays, mas aos poucos começa a ver Goran não como um homossexual, mas sim como alguém que está disposto a ajudá-lo, mesmo sabendo do seu passado conturbado.

Goran, no começo, sente um pouco de receio por causa do histórico de Patrik, mas começa a explorar o que de melhor o garoto tem. Ironicamente, Goran não tem habilidade com plantas e descobre que o garoto sabe como ninguém a lidar com elas. Começa aí uma aproximação que resultará em momentos empolgantes, de silêncio que dizem muito mais do que diálogos explicativos. Não se trata de um enredo surpreendente e cheio de surpresas, mas quem sabe uma ode às possibilidades que a vida, às vezes, pode reservar.

Como pano de fundo, o filme mostra como a sociedade ainda lida com estranheza ao se deparar com um casal homossexual vivendo tão próximo. Dizer que não se tem preconceito é sempre muito fácil e correto, mas e quando a realidade resolver bater à sua porta, como será?

Toc toc...

-- Meu nome é Patrik!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nelson Baskerville

Ator, diretor e artista plástico fala sobre sua carreira enquanto apresenta a sua São Paulo

Nascido em 1961 sob o signo de virgem, Nelson Barkerville tem em seu histórico artístico inúmeros trabalhos. O mais recente foi de repercussão nacional. O ator, diretor e artista plástico viveu o personagem Leandro, na novela Viver a Vida, da Rede Globo. Na trama, o ator interpretou o pai dos gêmeos Miguel e Jorge, vividos por Mateus Solano. Antes da novela, Baskerville participou da minissérie Maysa, exibida em 2009, em que interpretou o pai da cantora.


Mas é no teatro que Baskerville traz uma infinidade de trabalhos importantes com alguns dos principais grupos e artistas brasileiros que fazem parte da História do Teatro Brasileiro. Dirigiu espetáculos como Camino Real, de Tennessee Williams, Dublin Carol, de Conor McPherson, 17 X Nelson - O Inferno de Todos Nós, adaptação dos textos de Nelson Rodrigues e a mais recente Por que a Criança Cozinha na Polenta, de Aglaja Veteranyi, que esteve em cartaz até maio, no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt.

Como ator, formou-se em 1983 pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD-USP) e desde então participou de montagens como Uma Lição Longe Demais, de Zeno Wilde, A Megera Domada, Solness, o Construtor e Senhor de Porqueiral, do grupo Tapa, além de ter trabalhado com importantes nomes das artes cênicas, como o dramaturgo e roteirista Luis Alberto de Abreu e o diretor e dramaturgo Fauzi Arap.

E se você pensa que ele para por aí, se engana. Baskerville também se aventura pelas artes plásticas e sua participação em Viver a Vida, resultou na exposição Enquanto Vivi a Vida - em cartaz até domingo (dia 13), na Galeria Pop (R. Dr. Virgilio de Carvalho, 297, Pinheiros, tel.: 3081-7865) - além de ter adaptado textos de James Joyce e Frank Wedekind e conciliar tudo isso sendo professor de teatro há 18 anos.

Sobre projetos futuros, o artista conta que está em dois projetos teatrais: BlackBird, do escocês David Harrower, sob direção de Alexandre Tenório, com estreia marcada para agosto e Luis Antonio Gabriela, processo colaborativo com a Cia Mungunzá de Teatro, prevista para outubro. Na TV, fará participação no seriado As Cariocas, dirigido por Daniel Filho, baseado nas crônicas de Sérgio Porto e previsto para estrear no segundo semestre deste ano, na Globo. No cinema, acabou de filmar O Olho da Rua, que ainda não tem data marcada para estrear.

Bom, agora a gente respira um pouco enquanto conhece a São Paulo desse múltiplo artista, que atualmente mora no bairro da Aclimação.

Um lugar bom para namorar na cidade...
Ah, o Parque da Aclimação, menor que o Ibirapuera, porém mais charmoso, mais aconchegante. Bom pra namorar a qualquer hora.

Na cidade, os serviços que mais uso e recomendo são...
Restaurantes, bares, o metrô, a Santa Ifigenia, os parques Aclimação e Ibirapuera, o Masp e as galerias

Um lugar para relaxar...
Atualmente, a maca da Diane, na First Personal Studio, academia onde treino quatro vezes por semana, nas mãos de minha personal Patrícia Carbone

Um bom lugar para fazer compras...
Quer me ver feliz, me leve para compras na rua Santa Ifigênia, nem que eu não compre nada (o que é quase impossível) mas aquela movimentação toda me fascina! Também sou louco pela Fnac e Livraria Cultura

Um programa que recomendo...
Bem, o parque da Aclimação e a feira-livre da Castro Alves, aos sábados.

Lugares onde gosto de comer:
a) Restaurantes
Planetas, onde como há 20 anos, sob o olhar atento do Beto, o proprietário que abriga toda a classe teatral da cidade e todas as produções que vêm a São Paulo e o Shimpachi, na rua São Joaquim. O melhor japonês da cidade

b) Bar
Genésio

c) Doceria
Padaria Orquídea Pérola
, aqui da Aclimação também. Ambiente maravilhoso, pães dos “sonhos” e uma deliciosa sopa no inverno, até as 21h

d) Na Rua
Pastel na Feira da Aclimação, aos sábados

Quando o assunto é programa cultural, os locais onde mais gosto de ir são...

Adoro a Livraria/Galeria Pop, em Pinheiros e o Cine Belas Artes

Quando quero sair à noite, meus lugar preferido é...
Praça Roosevelt

O Melhor de São Paulo...
A vida cultural e gastronômica

O Pior de São Paulo...
O trânsito, apesar de eu ter resolvido isso há dois anos com minha motocicleta que, com todos os problemas de acidentes continua sendo uma alternativa saudável e rápida para o caos da cidade

Minha trilha sonora em São Paulo...
Luiz Tatit é a cara de São Paulo, um gênio, não canso de escutar. Adoro o Rumo também, a banda que ele formou nos anos 80.

No twitter, sigo...
Raquel Ripani, Christine Fernandes e Walcir Carrasco.

Livros que indico...
O Poder do Mito, de Joseph Campbell, que mudou minha vida, e Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce. Estes não saem nunca da minha cabeceira. Aglaja Veterany é genial no livro que eu adaptei para o teatro, Por que a criança cozinha na Polenta e Crime e Castigo, de Dostoiévski, e qualquer texto de Tennessee Williams

Peças teatrais que recomendo...
Êxodos – O Eclipse da Terra, do grupo Folias (em cartaz de quinta a domingo até 27 de junho, no Galpão do Folias, tel.: 3361-2223); As Meninas, dirigida por Yara Novaes (em cartaz aos sábados e domingos até o dia 25 de julho, no Viga Espaço Cênico, tel.: 3801-1843); e Namorados da Catedral Bêbada, de Francisco Carlos. É genial!

Uma exposição que recomendo...
Acho que pouca gente conhece o acervo permanente do Masp, um museu riquíssimo

Um filme inesquecível...
Woody Allen é sempre maravilhoso, mas adoro essa fase épico-brechtiana inaugurada por Match Point (filme de 2005) onde ele lança mão de uma dialética moderna para nos fazer pensar e decidir. Adorei Sinédoque New York (dirigido por Charlie Kaufman, com Philip Seymour Hoffman, e Samantha Morton). Gosto de qualquer coisa de Lars von Trier. Seu último filme, Anticristo, me perturba!

Montagens marcantes...
Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno, de Antunes Filho; Os Sertões, de Zé Celso; e Orestéia, de Marco Antonio Rodrigues

Um diretor (a) teatral...
Zé Celso

Um (a) ator/atriz...
Cacá Carvalho.


Everson Bertucci

Entrevista publicada no site Cesar Giobbi no dia 11 de junho de 2010

http://www.onne.com.br/cesar/materia/sao_paulo_do_meu_jeito/13582/nelson-baskerville


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Balanço da 14ª Parada Gay


Saiba como foi a maior manifestação LGTB do mundo que ocorreu nesse domingo (dia 6), na cidade de São Paulo

Foto: Vinícius Corrêa


São Paulo mais uma vez foi sede de outra bem sucedida Parada do Orgulho LGTB. Na sua 14ª edição, a manifestação fez com que milhões de pessoas se mobilizassem pela causa da diversidade. Nesse domingo (dia 6), a Avenida Paulista novamente ficou lotada de gente de todos os tipos, sexualidades, nacionalidades e diversas regiões do país. Com a temática Vote Contra a Homofobia – Defenda a Cidadania, os trios elétricos deste ano estavam decorados predominantemente pelas cores preta e branca. Mas não era apenas essas cores que despontaram pela mais famosa avenida do Brasil.

Desde cedo, era possível ver as pessoas nas ruas, chegando de todos os lugares e cidades mais próximas da capital, vindo de ônibus, de trem, de metrô, de táxi, à pé... enfim, elas simplesmente tomaram as ruas de São Paulo em direção à Paulista. A diversão e alegria eram expostas através das palavras, das roupas, das brincadeiras, das paqueras e das diversas personalidades que transitavam pela região.

De acordo com a Secretaria Pública da Segurança de São Paulo (SSP-SP), cerca de 1,4 mil policiais civis e militares foram designados para fazer a segurança das pessoas que foram lutar pela causa, ou simplesmente se divertir e prestigiar a grande manifestação pública, a maior do mundo. Também segundo informações do órgão, em 2009, o evento levou às ruas 3,1 milhões de pessoas. O número deste ano, até o momento, ainda não foi divulgado.

Por volta das 12h do domingo (dia 6), em frente ao prédio da Rádio Gazeta, os trios elétricos começaram o trajeto, que seguiu pela Avenida Paulista, desceu a Rua da Consolação até chegar ao ponto final: a Praça Roosevelt. Para os turistas estrangeiros que vieram participar da manifestação, havia policiais bilíngues que estavam devidamente identificados com as bandeiras dos países, além de policiais militares que dominam os seguintes idiomas: inglês, espanhol, italiano, alemão, francês e japonês, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.

Há quem tenha participado efetivamente da festa, indo às ruas levantando a bandeira da causa ou indiretamente, das sacadas e janelas das centenas de prédios por onde passou a passeata. Entre os manifestantes, a mais pura prova da diversidade. Os adolescentes à procura de uma paquera, heteros se enamorando, crianças fascinadas com tanta cor e novidade, grupo de travestis com seus seios à mostra, lésbicas de perucas roxas, go go boys se exibindo nos trios elétricos, drag-queens com suas performances alegóricas, transformistas com seus adereços criativos, vovós que acompanhavam pelas janelas dos apartamentos e gays que, como eles mesmos dizem, arrasavam na avenida.

Quanto às figuras públicas, Marta Suplicy estava presente na manifestação, como faz todos os anos. Já os principais candidatos à Presidência da República, Dilma Roussef, Marina Silva e José Serra não compareceram, nem por isso a festa deixou de seguir seu fluxo e quando os trios elétricos se aproximavam, literalmente, faziam o chão tremer. Ao som de Lady Gaga, Beyoncé, Madonna e outras tantas divas da música pop, e muita música eletrônica, todo mundo caiu da folia e levantou a bandeira contra a homofobia num som uníssono da canção “Se joga pintosa, põe rosa”, da drag Léo Áquilla, que vira e mexe tocava num ou noutro trio.

Alguns destes momentos foram registrados pelo fotógrafo sorocabano Vinícius Corrêa, de 21 anos, que levou para as ruas, além da sua câmera fotográfica, o seu olhar atento à manifestação. O resultado você confere nas imagens singulares que ilustram, exclusivamente, esse texto.


Everson Bertucci

Texto publicado no dia 7 de junho de 2010 no link abaixo:

http://www.onne.com.br/cesar/materia/variedades/13519/balan-o-da-14-parada-gay