terça-feira, 31 de março de 2009

SÍNTESE SOBRE A MUDANÇA OCORRIDA COM O ADVENTO DA MÍDIA - GLOBALIZAÇÃO

NOVA VERSÃO DE UM ROTEIRO DE SUCESSO

Palavra- chave: cemitério

Resumo: Síntese sobre a mudança ocorrida com o advento da mídia.


É certo que quando se começou a falar em globalização, houve muitos burburinhos. Todos falavam em modernidade, alguns não sabiam exatamente o que era, outros só tinham ouvido falar e muitos não entendem até hoje.
De repente se acorda e tudo está fora do lugar. Acordar de uma hora para outra e se deparar com um mundo cibernético em que as cartas manuscritas não tem mais o valor de outrora, em que muitos dos nascidos a pouco nunca sentiram o cheiro de terra molhada, nunca sentaram em volta de uma fogueira, quando criança, para ouvir um tio mais velho contar histórias que somente os mais antigos sabiam fazê-lo e que somente o espírito infantil consegue captar. Mas há quem diga sentir o perfume das rosas nos e-mails.
Bem ou mal, o certo é que houve, no último século, uma mudança muito brusca na cultura e realidade, não só brasileira, como mundial. A chegada da TV, veio para revolucionar a vida cotidiana das pessoas. Trouxe muitas novidades e um universo completamente diferente. Com ela, o contato mais direto com o outro, foi gradativamente ficando menos intenso e se transformando num diálogo mais “televisão x ser humano”, um universo, muitas vezes, solitário.
Junto com isso, trouxe uma certa libertação, rompimento de padrões, o despertar de uma nova era e quando achamos que não tinha mais nada por vir... chega o computador, e a internet nos surpreende ainda mais com a possibilidade de acesso, quase instantâneo, sobre tudo o que há e acontece no mundo.
Deixando um pouco de lado a nostalgia e nos atendo à realidade atual, o fato é que a mídia é um fator fundamental nessa era globalizada. Segundo Dênis Moraes, em “O Capital da Mídia na Lógica Globalizada”,

“A retórica da globalização intenta incutir a convicção de que a fonte primeira de expressão cultural se mede pelo nível de consumo dos indivíduos”

Percebe-se, claramente o intuito da mídia em transformar o indivíduo num ser consumista, pois o processo de consumo, talvez seja, o combustível motor de sua sobrevivência. Moraes ainda continua:

“A chamada grande mídia fabrica o consenso sobre a superioridade das economias abertas, insistindo que não há saída fora dos pressupostos neoliberais. O eixo ideológico consiste em enquadrar o consumo como valor universal, capaz de converter necessidades, desejos e fantasias em bens integrados à ordem da produção”.

A grande mídia busca construir conceitos que levam o indivíduo a pensar como lhe convém, devido aos pressupostos das economias abertas, ou seja, capitais externos entrando e saindo do país obtendo os melhores lucros sem nenhuma contrapartida, fazendo com que países não desenvolvidos sofram prejuízos econômicos. Mesmo assim a mídia fabrica a idéia de que a melhor alternativa é transformar o consumo como valor universal.
Toda essa revolução vinda com a globalização, é claro, trouxe muitas coisas boas e outras, nem tanto. Ainda está se aprendendo a viver com isso porque existem mudanças positivas para o nosso cotidiano e mudanças que estão tornando a vida de muita gente mais difícil ou, no mínimo, diferente. O combate à inflação foi um dos pontos positivos. Com a modernização da economia e a entrada de produtos importados o consumidor foi beneficiado com o barateamento e melhor qualidade dos produtos, oferta esta que ampliou a disponibilidade de produtos nacionais em vários setores, como carros, roupas, eletrodomésticos e em serviços como locadoras, restaurantes etc. A opção de escolha que se tem hoje é infinitamente maior.
Mas a necessidade de modernização e de aumento da competitividade das empresas, produziu um efeito muito negativo, que foi o desemprego. Para reduzir custos e poder baixar os preços, as empresas tiveram de aprender a produzir mais com menos gente. Incorporavam novas tecnologias e máquinas. O trabalhador perdeu espaço e esse é um dos grandes desafios que, não só o Brasil, mas algumas das principais economias do mundo têm hoje pela frente: crescer o suficiente para absorver a mão-de-obra disponível no mercado. Além disso, houve o aumento da distância e da dependência tecnológica dos países periféricos em relação aos desenvolvidos.
Grandes empresas, na sua sede insaciável pelo lucro aproveitam disso para explorar nações menos desenvolvidas e exploração da mão-de-obra. A China é um exemplo disso, ela desperta o interesse de algumas empresas que aproveitando das deficiências econômicas locais, utilizam da mão-de-obra “escrava” para maior obtenção de lucros.
Com a globalização, os indivíduos passaram a ter acesso a elementos antes disponíveis apenas para quem tinha um grande acesso econômico, como o conhecimento de novas culturas, acesso a informações internacionais, etc.
Isto toma corpo num outro trecho do texto referido:

“Vivemos uma mudança de paradigma comunicacional. Do gabarito midiático evoluímos para o multimídia, sob o signo da digitalização. A linguagem digital única forja a base material para a hibridação das infra-estruturas de transmissão de dados, imagens e sons”.

Com o avanço tecnológico que de uma hora para outra foi tomando conta do universo social nas últimas décadas, possibilitou ao indivíduo, com o crescimento do mercado do cinema, por exemplo, a ter mais opções de divertimento, informação e reflexão perante assuntos relevantes relativo à própria existência. Em contrapartida, as grandes distribuidoras estão mais preocupadas em “distrair” a massa e mantê-la sobre seu domínio, lançando e dissipando sempre os mesmos enlatados, vendendo ilusões. Dênis de Moraes chama a atenção para o caso de filmes, nos quais se fundem elementos dos westerns norte-americanos embalados pelos efeitos especiais hollywoodianos.
Quando algum diretor foge a esta regra se vê, na maioria das vezes, fadado ao fracasso de público, pois não há muitas instituições para investir em filmes com um nível cultural mais profundo. Filmes com intensidade dramática e de elaborado questionamento, como “As Horas”, passam despercebidos por ter uma linguagem bem diferente do comum até mesmo pela narrativa e pela construção das imagens, assim como “Magnólia”, “Dogville”, “Dançando no Escuro”, entre outros, que acabam ficando no circuito alternativo e restrito a um público limitado, embora tragam no elenco figuras “que chamam bilheteria” como Nicole Kidman, Tom Cruise, Bijork.
De qualquer forma considero isto um avanço, pois embora que de forma escassa, existe acesso a tais filmes, e graças a isso pude me deparar com um depoimento feito por uma criança de oito anos, indiana e filha de prostituta, num universo totalmente degradante e sem a menor expectativa de vida dizendo naturalmente: “É preciso aceitar que a vida é triste e dolorida. Só isso!”. No documentário “Nascidos em Bordéis”, pode-se notar que a globalização não se faz presente àquela realidade que os cerca e que graças a ela, em outras nações, ela pode ser vista, embora que também de forma escassa.

“A mídia global (...) entrelaça a propriedade de estúdios, produtoras, distribuidoras e exibidoras de filmes, gravadoras de discos, editoras, parques de diversões, TVs abertas e pagas, emissoras de rádio, revistas, jornais, serviços on line, portais e provedores de internet, vídeos, videogames, jogos, softwares, CD-ROMs, DVDs, equipes esportivas, megastores, agências de publicidade e marketing...”

Ou seja, o que existe é um monopólio destas empresas que conduz a massa como lhe melhor convém. Fazem um mega espetáculo em que o indivíduo sinta a necessidade de se integrar e se não corresponde aos seus chamados fica de fora deste gigante universo.
Toda essa estrutura mercadológica, com seus atrativos consumistas, se apresenta da maneira mais interessante possível aos olhos do indivíduo como um imenso e bem disfarçado “cemitério”, com ornamentações de alto requinte e um Hitler sem suástica, nem nada que o faça perceptível a priori, recepcionando e direcionando, de forma encantadora, o indivíduo a comprar o produto de sua “loja”. Somente olhos mais atentos conseguem ler o que está escrito nos olhos do “vendedor”: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”.

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