sábado, 18 de abril de 2009

O DIÁRIO DE ALICE - EPISÓDIO 32 - a dança

Não devia ter ligado. Ele foi simpático, perguntou como eu estava. Eu disse que estava mais ou menos. Problemas. Sabe aquelas perguntinhas irônicas e extremamente desagradáveis “e aí, está namorando?”. Minha vontade foi de gritar “não, não estou namorando. Acabei de levar um fora de um idiota que não percebeu que eu sou uma pessoa maravilhosa!”. Mas simplesmente respondi calmamente e em tom de brincadeira “não. Acabei de levar um fora, mas estou tranqüila”. Ele ainda teve o desplante de dizer “ai, que pena!”. “acha mesmo? Então volta pra mim e me faça a mulher mais feliz do mundo!”. É claro que esta frase ficou só no meu pensamento. Disse uma dessas frases idiotas quando não há mais nada a dizer “Pois é, né!?”. Perguntei como ele estava. Disse que estava meio deprimido, pensativo. Tinha pensado muito em nós e que havia tomado uma decisão. Que gosta muito de mim, mas que não queria nenhum compromisso sério... que tinha acabado de sair de um relacionamento complicado, que ela estava querendo voltar, embora ele não quisesse... essas frases que eles pensam que consolam, mas que só servem para nos calar a boca e nos deixar com pena deles. É claro que eles têm consciência disso, diário. Mas quem disse pra que eu queria um relacionamento sério? Nessas alturas do campeonato eu me contentaria com qualquer migalha. “Você me ligou depois de tanto tempo só para terminar comigo ou somente pelo prazer de me torturar? Talvez isso não faça a menor diferença, mas minha vida acabou depois que você parou de me ligar, aliás, eu não sei porque eu continuo a respirar já que não existe mais sangue na minhas veias e nem células vivas dentro de mim”. Só não cravei uma punhalada no meu peito, como prometi, porque esqueci de levar a faca pra perto do telefone. Ai, Diário...

Autoria: Everson Bertucci

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